30 novembro, 2011

Referencial

Uma típica pastelaria portuguesa

Os portugueses não tem fama de padeiros no Brasil por acaso. Por qualquer cidade que a gente passe, sempre há pelo menos uma boa pastelaria, com um grande forte para os doces.

Brasileiros quando se mudam para Portugal estranham um pouco porque há pouquíssima variedade de salgados. Além disso, são servidos frios. Em um ou outro lugar o atendente pergunta se queremos que aqueça, mas isso não é regra.

Pois bem. Entro eu numa pastelaria, procuro por salgados e encontro uns três ou quatro, com cara de assados/ fritos três dias atrás. Pergunto:

- Os salgados que há são só esses?

O senhor responde:

- Sim. São TODOS esses.

Tudo é uma questão de ponto de vista, não é? 

29 novembro, 2011

Quando um preso cruza o seu caminho

Imagine a cena: você está sentada numa sala de espera de uma clínica para fazer um exame. Você nota a presença e o movimento de dois policiais para lá e para cá. Daí ouve a recepcionista perguntar ao telefone se o recluso (um prisioneiro) está pronto para ser buscado.

Você pensa que não ouviu direito e se dirige para a sala de um dos exames. Quando vai trocar de sala vê um homem acompanhado pelo guarda, vestido com um roupão e com algemas nas mãos sendo levado para a mesma sala que você acabou de sair.

Filme? Não.
Hospital público? Também não.

Havia só um médico e só um técnico. Você fica à espera enquanto o prisioneiro é atendido. Estica as pernas, faz xixi e se pergunta: “Mas que raio?”.

Cabem muitas sensações e interpretações no espaço de alguns minutos. E você passa da mais completa indignação para uma inacreditável admiração. O seu primeiro instinto é: “nunca mais volto aqui” para depois ser surpreendida com o próprio pensamento: “Não é incrível? Eu vivo numa sociedade que dá a um prisioneiro o mesmo padrão de atendimento que uma pessoa que pode pagar por tal”. Porque independente do crime que ele cometeu, ter acesso a tratamento de saúde é um direito universal.

Isso te faz lembrar que embora naquele dia em especial você estivesse pagando o valor integral porque se tratava de um exame muito específico – e a autorização do Estado demoraria muito mais do que você estava disposta a esperar –, em outras circunstâncias, naquela mesma clínica, você já tinha sido atendida com a mesma atenção e pagando apenas o valor mínimo cobrado para pacientes subsidiados pelo Sistema Público de Saúde.

Também te faz descobrir preconceitos que você nem sabia que tinha. Porque de tão utópico que parece ser o conceito de “direitos iguais para todos”, você nem imaginava que ele pudesse ser posto em prática justo ao seu lado. Felizmente, entre tantos pensamentos desconexos, você voltou para casa grata por ter presenciado e refletido sobre tudo aquilo e por ver que entre tanta corrupção pelo menos alguma coisa boa é feita com os impostos que você paga. 

Sem mea culpa

Eu disse que publicaria uma nova dica ecológica a cada quinta-feira, mas eis que na semana passada em meio à greve geral e a decisões e compromissos assumidos de última hora, Marido e eu fizemos um bate-volta para Madrid de carro. Estou desculpada? :-)

Nós e a Plaza Mayor versão 2011

Apesar dessa ter sido a quarta vez que estive em Madrid, eu nunca fui para lá para fazer turismo propriamente dito. Nas duas primeiras fui visitar um grande amigo que conheci no Canadá e na última vez foi uma passagem relâmpago, no meio da conexão para Tenerife.

Pela primeira vez no Reina Sofia
Mas de uma forma ou de outra, a verdade é que eu já conheço os principais pontos turísticos, então aproveitei o tempo que sobrou para visitar locais que ainda não conhecia e revisitar os queridinhos. #delicia

24 novembro, 2011

Greve geral

Amanhã, dia 24 de novembro, acontecerá a greve geral em Portugal, exatamente um ano após a manifestação de 2010. Não se fala em outra coisa, como não poderia deixar de ser. E de novo eu me impressiono com a organização, a adesão e a compreensão de [quase] todos.

Ontem, no centro de saúde a atendente me recomendou: “Volte aqui amanhã ou na sexta. Mas olha, na quinta não porque será greve”. Uma amiga foi para a Espanha e adiou a volta para o dia 25 e assim segue, cada um se adaptando ao dia em que tudo vai parar.

Se pelo menos as pessoas soubessem o poder que realmente possuem. Elas enchem as ruas para protestar contra os governantes, mas no dia de ir às urnas – como aqui o voto não é obrigatório – deixam que uma minoria decida por elas. Gritam palavras de ordem contra os Estados Unidos com uma lata de coca-cola numa mão e um iphone na outra. Oi, congruência?

Eu sou muito solidária à causa em questão. Muito mesmo. Mas também sou da opinião de que devemos ser a mudança que queremos ver no mundo. Se a mudança começa indo às ruas para mostrar a indignação, ótimo, mas todo mundo sabe que não fica por aí. 

17 novembro, 2011

Dica ecológica: reduza

Vocês já repararam que vivemos numa sociedade do consumo? Somos instigados a comprar o tempo todo e quase na mesma velocidade com que adquirimos, jogamos fora. Um dos itens do Guia do Consumidor Consciente, elaborado pelo Akatu, recomenda que antes de compramos qualquer coisa por impulso, nos perguntemos se é realmente necessário. Tarefa difícil, eu bem sei. Mas se a gente parar para analizar, anda rolando um certo exagero sobre tudo.

Reparem: hoje em dia a gente tem um par de tênis para correr, outro para andar na cidade, outro para andar no campo e outro para ir para a academia. Há faca para cortar pão, para passar manteiga, para cortar queijo, para peixes e para não sei mais o quê. Uma amiga do mestrado está fazendo a dissertação sobre o movimento do Decréscimo, que, numa explicação bem simplista, defende a criação de novas políticas econômicas que não foquem apenas no crescimento de produção. 

Como primeiro exemplo para abrir a seção Dicas Ecológicas: as embalagens. Nada mais propício para a época do Natal, não é? A imagem abaixo apareceu aqui no blog em 2009, mas continua atual. Caixas, laços e papéis de presente saem da loja e vão diretamente para o lixo, passando rapidamente pelas mãos de quem dá e de quem recebe.



Já tem alguns anos que eu troquei o papel de presente por jornal, páginas de revistas, caixas reaproveitadas ou o que estiver disponível e a reação de quem recebe é sempre de surpresa pela criatividade e originalidade.

Natal feliz no Brasil em 2009: fácil reconhecer os presentes dados por nós

 Na próxima quinta eu trarei uma nova sugestão. 

16 novembro, 2011

Em sintonia com o planeta

Ontem eu comecei a rascunhar alguns textos com dicas ecológicas. É um projeto antigo que eu ainda não tinha tirado da cabeça, mas me motivei com o clima consumista de Natal que está se aproximando.

A ideia fluiu tão bem enquanto eu escrevia que decidi que será uma seção aqui no blog chamada Dicas ecológicas, que eu sempre atualizarei conforme descobrir algo novo/ interessante, independente das festas de fim de ano.

E eis que hoje uma das primeiras notícias que leio é que a terceira edição do Manual Flávia Ferrari acabou de chegar às bancas de jornal do Brasil. E olha a sintonia com o planeta: uma das chamadas de capa é justamente sobre sustentabilidade, com quatro sugestões de presentes feitos com material reciclável.

E agora, agorinha mesmo, eu li este texto da Giuliana Capello para o Planeta Sustentável que simplesmente resume na perfeição o que me impulsiona a escrever sobre esse assunto. Porque se o mestrado que estou fazendo não servir para mais nada na minha vida, serviu para me deixar mais consciente sobre as minhas escolhas e o impacto que elas podem exercer sobre o planeta.

Nada de presente! Foto: Planeta Sustentável

 Soa pretencioso falando assim, mas se juntarmos a minha luz acesa, com o banho demorado da Fulana, com a pia pingando da Beltrana e muitos outros casos, o planeta acaba. Eu ainda não cheguei ao nível da Giuliana, de deixar de dar presente em datas especiais, mas virei adepta do presente comestível, aquele que a pessoa ganha, gosta, come ou bebe e acaba, não vai parar no fundo do gaveta, nem disputar espaço na prateleira.

Bem... mas por hoje é isso. Amanhã publicarei a primeira dica ecológica.

Apareçam e palpitem!

15 novembro, 2011

Sem tempo para mimimi

Hoje é feriado de Proclamação da República no Brasil. A calmaria no twitter e no facebook mostra que muita gente colocou o pé na estrada desde sexta. Amanhã e quarta, ao contrário, serão os dias que vão chover novas fotos e relatos de como o feriado foi aproveitado. Ou não.

Era o caso de ficar de mimimi, porque em Portugal é dia normal? Eu não acho. Principalmente porque em dezembro há dois feriadões, um no dia 1 pela Restauração da República e outro no dia 8, por causa da Imaculada Conceição.

E sabe o que é melhor disso tudo? É que, como estamos longe das nossas famílias, passamos alheios ao frenezi de fim de ano. Parece a maior Pollyannice, mas é verdade.

Enquanto muitos aproveitam a folga para as últimas compras – naquela loucura que se transformam os centros comerciais –  Marido e eu exploramos a cidade com calma, só observando o corre-corre, pegamos sala de cinema praticamente vazia ou simplesmente ficamos em casa, montamos a árvore de Natal e curtimos o friozinho do inverno na companhia de um bom vinho português.

11 novembro, 2011

Empolgação em pessoa

Meu aniversário foi no mês passado. Completei 32 anos e as comemorações duraram quase uma semana. Teve jantar com amigos especiais na vépera, jantar com os amigos mais próximos de Lisboa e ida ao Bairro Alto no dia e city tour com dois primos do Marido que estavam aqui de férias no fim de semana. Tudo de-li-ci-o-so.

Eu adoro comemorar. Da forma que for e do jeito que der, mas TEM que ser celebrado. E, como diz o título desta postagem, eu sou a empolgação em pessoa. Só de um amigo dizer que vai à minha festa, eu já fico toda feliz. Não preciso de mais nada além da presença dos meus e abraços sinceros.

Se eu ganho algum presente, então, vou à Lua e volto em segundos.

Daí hoje, quase um mês depois do meu aniversário, chegou uma caixa enooorme pelo correio enviada pela minha Maria. Enorme e pesada. Abri mais que depressa e soltava gargalhadas e pulinhos a cada pacote que desembrulhava. Detalhe: sozinha. Imediatamente liguei pro Marido.

Eu: LÚÚÚÚÚÚÚÚ! VEM PRA CASA AGORA.
Ele: Agora?
Eu: É!!!!! AGORA!
Ele: Daqui a pouco eu vou.
Eu: Não! Vem AGORA. VEM VER O PRESENTE QUE A BIA MANDOU!
Ele: Ah!!! Eu já ia perguntar o que tinha nascido no quintal.

Porque quando as tulipas floresceram foi exatamente assim que eu reagi. Igual criança em véspera de Natal. 

Amor in Box 

02 novembro, 2011

Bem-vindo, Outono!

Este ano, se o Outono demorasse só mais um pouquinho para chegar aqui nas bandas de Portugal, ia perder a vez para o Inverno. Mas cá está ele. Dias com um céu azul e aquele vento que corta a pele desprotegida; dias com chuva por horas seguidas, para a alegria das plantas.

Além de cuidar do meu guarda-roupa, guardando vestidos, biquinis, blusinhas de alça e sandálias, para dar lugar a malhas, cachecóis, luvas, botas e casacos; a casa também "troca de roupa".

A colcha de retalhos feita pela Donana vai para o sofá
E no lugar dela, o edredom, bem mais quente


A rede vai descansar longe do quintal...

Assim como as bicicletas, que vão para o canto que as protege da chuva. Porque, como eu li no facebook de um amigo dias atrás...

Foto assim de novo, pedalando de bermuda e camiseta, só para o ano