Você pensa que não ouviu direito e se
dirige para a sala de um dos exames. Quando vai trocar de sala vê um homem
acompanhado pelo guarda, vestido com um roupão e com algemas nas mãos sendo
levado para a mesma sala que você acabou de sair.
Filme? Não.
Hospital público? Também não.
Havia só um médico e só um técnico. Você
fica à espera enquanto o prisioneiro é atendido. Estica as pernas, faz xixi e
se pergunta: “Mas que raio?”.
Cabem muitas sensações e interpretações no
espaço de alguns minutos. E você passa da mais completa indignação para uma
inacreditável admiração. O seu primeiro instinto é: “nunca mais volto aqui”
para depois ser surpreendida com o próprio pensamento: “Não é incrível? Eu vivo
numa sociedade que dá a um prisioneiro o mesmo padrão de atendimento que uma
pessoa que pode pagar por tal”. Porque independente do crime que ele cometeu, ter
acesso a tratamento de saúde é um direito universal.
Isso te faz lembrar que embora naquele dia
em especial você estivesse pagando o valor integral porque se tratava de um
exame muito específico – e a autorização do Estado demoraria muito mais do que
você estava disposta a esperar –, em outras circunstâncias, naquela mesma
clínica, você já tinha sido atendida com a mesma atenção e pagando apenas o
valor mínimo cobrado para pacientes subsidiados pelo Sistema Público de Saúde.
Um comentário:
Não devemos esquecer que um prisioneiro é tutelado pelo estado, e como tal, deve ter sua integridade preservada. De certa maneira, o grau de civilização pode ser medido pela maneira como se trata de presos. Não é porque eles são maus e empregam métodos vis que devemos responder na mesma moeda.
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