25 maio, 2013

Brasil em Portugal

2013 está sendo o ano do Brasil em Portugal. E eu aqui na Espanha. Certas coisas a gente não controla, não é? Participei do modo que estava ao meu alcance: acompanhei de longe a programação, as repercussões e recomendei aos amigos tugas (e não só :) que fossem aos shows conhecer um pouco mais da cultura brasileira.

O que eu mais gostei foi que a organização do evento caprichou muito na escolha das atrações e levou para Portugal artistas – tanto consagrados como novos talentos – que fogem do padrão mais popularesco que os portugueses estão habituados. E gringos em geral, se a gente parar para pensar.

Em três ocasiões em especial eu cheguei a pesquisar preço de passagem e tentei de todos os jeitos dar uma pausa na vida madrileña para ir prestigiar, nem que fosse com um bate-volta. Mas por algum motivo acabou não rolando em nenhuma delas. Escolhas que temos que fazer.

O primeiro de todos foi o show d’O Teatro Mágico, que é uma das minhas bandas preferidas de sempre. Adoro as letras das músicas e, mais que isso, fico muito feliz de acompanhar a evolução que o grupo está fazendo. De pensar que o primeiro show que vi deles foi numa Virada Cultural, em 2007.


Depois perdi Alceu Valença, que foi trilha sonora de tantas baladinhas com os amigos da faculdade. Por aquelas coincidências da vida, a Ludmy e o Átila, do Vou Contigo, estavam em Portugal justo naqueles dias e pegaram o mesmo trem que o Alceu, de Lisboa ao Porto. Ganharam CD autografado e tudo =)


Agora o concerto que deu mais dor no coração de ter perdido foi o do Quaternaglia, que aconteceu agorinha há pouco, em Lisboa. Não conhecem? É um quarteto de cordas que faz interpretações belíssimas de compositores brasileiros. Eles ainda passarão por Évora, Coimbra, Mafra e Porto nos próximos dias (tem o roteiro detalhado da turnê no site oficial). Se você passar por uma dessas cidades, não perca! 




E sim, o meu gosto musical é um tanto eclético =)

20 maio, 2013

Marisa Monte em Madri

Nos dias de hoje, que a internet está em constante atualização, escrever sobre algo que aconteceu no dia 2 quando já estamos no dia 20 é a coisa mais ultrapassada do mundo, mas ne... como não dou  para o blog a mesma dinâmica que dou para o facebook, twitter e instragram, vou escrever mesmo assim.

Aqui em Madri, o dia 2 de maio também é feriado em homenagem aos mortos nos conflitos de 1808, quando a Espanha se enfrentou com as tropas francesas de Napoleão, o que depois ficou conhecido como a Guerra de Independência Espanhola. Falando em português claro: o mês começou com um muito bem-vindo feriado prolongado :D


E nesse feriadão a cidade recebeu a linda-musa-talentosíssima-maravilhosa Marisa Monte, com a turnê Verdade Uma Ilusão. Madri foi a última parada dela na Europa e até a chegada do grande dia, fui acompanhando os relatos dos amigos que foram aos shows em Lisboa e Barcelona. As expectativas estavam lá em cima e foram mais que superadas. Cenografia linda, seleção de músicas com todas as preferidas e ela simplesmente perfeita, com uma delicadeza e intensidade inconfundíveis.

Para esta semana começar com o astral lá em cima, ofereço a música que tem tocado sem parar por aqui e que foi justamente a de abertura do show.

“(...)
Atenção para escutar
Esse movimento que traz paz
Cada folha que cair,
Cada nuvem que passar
Ouve a terra respirar
Pelas portas e janelas das casas
Atenção para escutar
O que você quer saber de verdade”

03 maio, 2013

5 anos na Europa

Pedacinhos do mundo

Hoje completa 5 anos que Marido e eu viemos viver na Europa. Eu lembro perfeitamente daquele sábado, dia 3 de maio de 2008, quando chegamos a Lisboa e a cidade estava deserta por causa do feriado prolongado.

Lembro de cada detalhe do quarto do hotel, do nosso primeiro jantar – bacalhau, claro! –, do friozinho primaveril, o vento com sol à beira do Tejo, do cansaço pela viagem e pelo fuso, mas a curiosidade falando muito mais alto e nos mandando explorar aquelas ruas que, hoje, nos são tão familiares.

Cinco anos se passaram e eu sempre me impressiono com o quanto a vida muda num espaço tão curto. Se há 6 anos alguém me dissesse que nos próximos anos eu iria casar, mudar para Portugal e depois Espanha, viajaria por mais de 15 países, conheceria pessoas de todos os continentes, faria um mestrado que me enveredaria pelos caminhos do turismo e da sustentabilidade e expandiria meus horizontes de uma maneira tão visceral que simplesmente ficaria impossível voltar a ser aquela Kelli de 2007, eu riria e pensaria: “ela só acertou a parte do casamento...”.

Não tem como falar nos últimos anos sem que o peito fique cheio de gratidão por todas as experiências incríveis que temos tido o privilégio de viver. Privilégio daqueles bem grandes. Confesso que por muitas vezes questionei se merecia viver tudo isso. Até que duas pessoas que respeito muito, em momentos distintos, me disseram mais ou menos a mesma coisa: “Se a vida está te dando uma oportunidade, seja ela qual  for, aceite, agradeça e retribua”.
 
Lisboa querida
A partir daí, tudo ficou mais leve porque nós sabemos que estamos em Madri hoje. O amanhã é uma grande incógnita que pode reservar a nossa volta para o Brasil ou a ida para qualquer outro lugar no planeta. É por isso que aproveitamos o que a Europa nos oferece como se não houvesse amanhã. Suas estruturas, acessibilidade, o constante conviver com o diferente. E é por isso que a cada oportunidade de conhecer um lugar novo, as malas já estão prontas. Chega a ser engraçado, pois quando uma pessoa nos convida para visitar a sua casa, eu invarialmente pergunto se ela está certa daquilo, porque nós vamos. De verdade.

Volte e meia Marido e eu ouvimos que temos sorte. Dizem por aí que sorte é quando o preparo encontra a oportunidade. Pensando assim, nós realmente temos muita sorte. A sorte de amar,  tolerar e respeitar um ao outro; a sorte de ter uma família que entende que temos rodinhas nos pés e apoia as nossas escolhas; a sorte de ter amigos incríveis; a sorte de estarmos abertos para o que quer que seja. Sabem... eu acredito demais na “lei” que diz que quando a intenção é verdadeira, o universo conspira para que as coisas fluam. Funciona. Juro.

É claro que nem tudo são flores. Viver na Europa não se resume às fotos que publicamos no facebook ou instagram. Antes fosse :) Lidamos constantemente com a frustração de estar longe em todas as datas especiais, acompanhamos o crescimento do nosso afilhado e sobrinhos à distância, cogitamos voltar para o Brasil mês sim, mês não por causa da saudade da família e dos amigos.

Não importa quantos imigrantes existam no país, aqui somos sempre estrangeiros, leva tempo até ganhar a confiança dos locais (mas uma vez conquistada, temos amigos para a vida), temos que aprender como a cidade funciona do zero e sem a referências dos nossos pais, que não estão aqui para nos dizer onde se faz o documento de identidade, onde fica o posto de saúde, como se faz para abrir uma conta no banco, ou ter uma linha de celular, que nas farmácias não vendem absorvente higiênico, que o bilhete de ônibus se compra na tabacaria, que na padaria só se vende pão e que para tomar café tem que ir ao bar/cafeteria ao lado.  
Madri encantadora

Todas aquelas referências de infância e adolescência, esquece. Não entendemos as piadas, não temos embasamento para discutir a política, não reconhecemos os famosos, nem sequer conhecemos a programação da tevê ou sabemos quais são os programas que todo-mundo-vê tipo a novela das oito. É preciso paciência para lidar com o preconceito, com a saudade que bate do nada, ou com o inverno bem mais rigoroso que o brasileiro.

Mesmo assim, a contrapartida de viver fora do Brasil esses 5 anos tem valido muito à pena. Para onde quer que os ventos nos leve nos próximos anos, essa bagagem que estamos adquirindo vai nos acompanhar em todos os campos: pessoal, profissional, intelectual, cultural, emocional. Hoje somos mais flexíveis, super cúmplices e parceiros, revimos um montão de valores e conceitos, aprendemos que precisamos de pouco para viver bem e sermos felizes e que uma vez picados pelo bichinho viajadeiro, não tem mais volta: malas, tickets, avião, trem e caminhadas em busca de coisas novas sempre farão parte da nossa rotina.