24 agosto, 2013

Top 10 Marrocos

O Marrocos é um país de contrastes. Mesmo para nós que somos brasileiros, foi difícil em certos momentos lidar com situações desconcertantes. O pão que não foi todo comido e foi recolhido para ser reaproveitado, nunca saber se um favor era realmente um favor espontâneo – como nos mostrar onde fica tal monumento – ou se era uma armadilha para pedir gorjeta ao virar da esquina. Mas em tudo e todos encontrávamos  simpatia. “Brasileiros? Somos irmãos!” era como nos recebiam. Um país que acolhe. A seguir, selecionei o Top 10 dessa viagem. Peço desculpas antecipadas aos que não gostam de posts longos. Difícil ser sucinta depois da riqueza de experiências que o Marrocos nos proporciou.

  1. Casamento

Nunca agradecerei a Houda o suficiente por ter incluído Marido e eu na sua lista de convidados. Sem sombra de dúvida foi o ponto mais alto de toda a viagem. Imaginem: participar da festa desde o comecinho e ficar até o final (mais de 10 horas de festa!), conviver com TODA a família dos noivos, nos comunicarmos sem falarmos nada de árabe e muito pouco de francês,  ter as mãos pintadas de hena, entre tantos outros detalhes. Foi uma festa linda, cheia de rituais, muito alegre, sem uma gota de álcool e com fartura  de deliciosa comida.



  1. O Deserto


Imaginem a cena: você, uma vastidão de areia cor-de-laranja do Deserto do Saara, camelos, a lua cheia de um lado, uma grande duna e o pôr-do-sol do outro. É daqueles momentos que a gente senta, admira, solta um suspiro e agradece.


Eu me sentia num cenário de contos de fadas e pensava constantemente: “é igualzinho nos filmes!!!!”. Ao mesmo tempo, me entristeceu muito ver o quanto a região está sendo turisticamente explorada de um modo tão irresponsável. Escreverei um post só sobre a experiência no deserto e me aprofundarei mais nesse ponto.


  1. Kasbahs no meio do Atlas


No caminho para o deserto havia uma pedra  tem uma cadeia de montanhas que forma o Alto Atlas. Foram 12 horas para percorrer 600 km de vai-e-vem e sobe-e-desce numa paisagem desértica, laranja-cor-de-tijolo, com cidadezinhas e kasbahs (antigas fortalezas) que se misturam com a cor da montanha, quase como camaleões.


É algo que realmente impressiona. O caminho inteiro é inóspito, vê-se claramente o contorno que a estrada e as montanhas fazem pelo leito do rio. Que por sua vez estava completamente seco. Vale dizer que fizemos essa viagem no primeiro dia de verão (22 de junho), com um céu azul maravilhoso, 38 graus na cabeça e nenhuma nuvem. Nos disseram que no inverno as chuvas mudam completamente a paisagem.


Ao longo do caminho, ao mínimo sinal de água, palmeiras de tâmaras surgiam, como pequenos oásis. Quando eu falo que parece cenário de filme... I mean it! Inclusive essa região é realmente explorada cinematograficamente por diferentes estúdios, sobretudo próximo à cidade de Ouarzazate.



O Kasbah Aih Benhaddou foi set de gravação de filmes como Gladiador, Indiana Jones, Jesus de Nazaré, Jóia do Nilo, A Múmia, entre muitos outros. As últimas filmagens foram da série Game of Thrones. É o grande orgulho dos moradores. Ao mesmo tempo não deixa de ser triste, se pensarmos que o que leva esses estúdios para ali são os baixos custos e não necessariamente contribuir para a melhoria dessas pequenas cidades.



  1. A comida

Foram 12 dias a base de tajines, couscous, saladinhas, frutas, chá e muito suco de laranja. Até trouxemos temperos de lá como souvenir :)


Vale dizer que o Marrocos é um país muçulmano onde, em teoria, não se consome álcool. Mas... como cada vez eles estão mais abertos e flexíveis com o turismo, acaba sendo fácil encontrar vinho, cerveja e afins, sobretudo fora da Medina (parte mais antiga da cidade), na chamada Cidade Nova, Bairro Novo ou qualquer outra referência à parte da cidade mais ocidentalizada. 


Marido e eu resolvemos seguir a máxima “no Marrocos faça como os marroquinos” e tomamos cerveja apenas um vez em toda a viagem.



  1. A loucura de Marrakech

História, caos, cores, cheiros, trânsito, sujeira. Marrakech é um choque. É uma loucura. Chega a ser insana. Carros, carroças, pedestres, motos, bicicletas, burros, cavalos e vendedores disputam o mesmo espaço nas vielas minúsculas dos Bazares e Souks. Como bem disse Marido, ali, a lei que predomina é a do “buzina e empurra”. Vendedores vorazes. Assédio. Se olhar para algo, pronto, vão querer vender. Se tocar, então, esquece. Vai ter que comprar. A cidade em um verbo: barganhar. O ocre é a cor dominante e a poeira vinda no deserto paira sobre a cidade como se fosse neblina.


  1. A beleza de Fes

Foram necessários poucos minutos em Fes (ou Fez) para eu comentar que, se soubesse antes, teria começado a viagem por ali. Passou. Outro pensamento me ocorreu na sequência: talvez tenha sido justamente toda a voracidade e o caos de Marrakech, toda aquela ansiedade de querer explorar tudo, de tentar absorver séculos de história em poucos dias, que permitiu que o ritmo em Fes fosse de calma e contemplação. A cidade é encantadora, a que achamos mais bonita, bem preservada e para que conste: os vendedores são muito mais tranquilos.

Hortelã para suportar o cheio de carniça
dos tanques de tingir couro, em Fes

Detalhe: duas amigas me lembraram que a cidade foi cenário da novela O Clone.

  1. Hospedagem em riads
Riad Dar Jameel, em Tanger

Riad é como se chama o estilo de construção árabe, com um pátio central no prédio e os quartos distribuídos ao redor, em forma de balcão. Os riads costumam ter um caráter bem acolhedor e geralmente são pequenos, com no máximo seis quartos. Seriam o equivalente no Brasil àquelas pousadas que nos fazem sentir em casa, sabem?

Recepção do Riad Adarissa, em Fes
Pátio do Riad l'Oiseau du Paradis, em Marrakech

Com exceção de Meknes, que nos hospedamos no Ibis, em todas as demais cidades que passamos nos hospedamos em riads dentro da Medina, a parte mais antiga, mais tradicional e geralmente ainda murada das cidades. Foi um dos pontos altos da viagem porque nos garantiu um tratamento mais pessoal por parte dos funcionários, quartos com decoração estilo Aladdin e café da manhã sempre com tudo super fresquinho e caseiro.

Riad Dar Yanis, em Rabat

  1. Hammam
Hammam é um banho turco, com uma mega esfoliação, seguido de massagem. Nós já tínhamos experimentado quando fomos ao Uzbequistão. Apesar de parecer que a moça vai arrancar a nossa pele com a bucha, é uma experiência tão relaxante que quis provar outra vez.

Tivemos a sorte de no riad que nos hospedamos em Marrakech ter esse serviço, então foi duplamente providencial. Primeiro porque foi praticamente uma sessão particular e, segundo porque deixamos agendado para assim que voltássemos da excursão ao deserto. Pensem no mimo certo, no momento certo da viagem? Foi esse! Tiramos todo o encardido de poeira e ficamos revigorados para o resto da trip.

  1. Artesanato

Infelizmente, produtos “made in China” se já não são a maioria nos mercados marroquinos – os souks – estão prestes a se tornar. Mas com paciência para ignorar a insistência dos vendedores e disposição para caminhar, é possível encontrar ruazinhas só com coisas genuinamente marroquinas e o mais bonito: artesãos fazendo suas artes, sejam elas luminárias, bules, sapatos, bolsas, pinturas ou bordados.

Em algum lugar no meio dos Atlas, tapetes feitos a mão, com materiais naturais

Lá uma compra funciona assim: viu algo, gostou, agora negocie. Isso vale para absolutamente tudo, inclusive para comida ou táxi. Ainda que pareça barato para você, tenha a certeza: o primeiro preço que eles pedem é sempre superfaturado. Pode pedir desconto ou fazer uma contra-proposta sem medo. 

Cooperativa feminina que produz óleo de argan. Moroccanoil in natura

Pretendo abordar o tema de compras e pechinchas mais pra frente. Por hora, a única dica que eu dou é: se você não tem certeza se realmente quer tal objeto, não negocie. Vai ser desgastante para os dois lados.

E a vontade de trazer todas as cerâmicas?

  1. Andar de trem
Estação de Fes

Para fechar o Top 10 a nossa maior surpresa nessa viagem: o transporte ferroviário. Todos os amigos que conhecemos que fizeram uma viagem mais ou menos parecida com a nossa optaram por fazê-la de carro. Marido não estava muito confortável com a ideia por vários fatores: 1. o cansaço que provocaria, 2. a sinalização das rodovias em árabe e francês e 3. a qualidade das estradas, que desconhecíamos. 

Estação de Marrakech

Optamos por fazer todos os percursos de trem e realmente nos surpreendeu. Serviço pontual, vagões confortáveis, conecta todas as principais cidades com uma boa frequência e oferece um preço bem acessível, pagamos em média entre 8 e 12 euros por uma passagem na primeira classe. E de quebra, as estações de trem são uma mais linda que a outra.

Estação de Tanger