Viagem é como casamento, é só marcar que o
dia chega.
Eis que a viagem para o Brasil marcada,
planejada e esperada desde maio (!) está começando com tudo eu estou com aquela ansiedade boa,
contando os minutos para chegar a hora do reencontro com a família toda.
Já lá se foram dois anos desde a última vez
que pisei em terras tupinikins. Juro que se perguntarem, não sei explicar,
conscientemente, a razão de tanto tempo longe. Começamos Marido e eu a estudar,
mas ainda assim não justifica.
O lado bom disso foi ter recebido a família
em peso por aqui, em 2011 :-)
Enfim! Malas que mais parecem o saco do
Papai Noel super prontas, leituras de bordo separadas, bem como a calça mais
confortável para dez horas de voo, check in online feito e táxi reservado.
Agora é #partiu!
O carimbo não mente: já há dois anos sem cruzar o Atlântico
Semana de fechar malas e terminar capítulos.
Não necessariamente nessa ordem.
Foco, Kelli. Foco.
Dizem que um pouquinho de inspiração sempre ajuda, não é? Então vamos de Rumi.
“Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.
Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te.”
O meu mestrado está super na reta final. A cada
dia a minha dissertação ganha mais páginas e, o melhor: sentido. E isso apesar da
minha total falta de disciplina como estudante-que-mais-tira-férias-do-mundo,
mas gente, com toda uma Europa para explorar é perdoável, não é?
O mais engraçado é pensar que há poucos meses
eu estava completamente perdida, cogitando ficar apenas com o diploma de pós-graduação
do curso*. Lembram? Eu queria desistir mesmo da vida acadêmica. Praticamente toda
a minha turma estava na mesma vibração até que alguns alunos mais destacados terminaram
os seus trabalhos e deram uma super motivada no restante do pessoal.
O novo prazo para a entrega da dissertação está
chegando. Volta e meia eu sou tomada por surtos de desesperos, intercalados por
momentos no maior estilo “every little thing is gonna be alright”. E assim
segue.
O meu plano era ter TUDO pronto agora em
janeiro, mas ne... se eu terminasse com dois meses de antecedência que graça
teria? Não ia ter a emoção do “será que vai dar tempo?”.
Dentro da minha cabeça, a dissertação está
prontinha. Tem capa e tudo. Meu sonho de consumo é que existisse um cabo USB que conectasse o cérebro
com a impressora. Não ia ser perfeito? Pularia as fases de sentar, concentrar e
escrever, iria direto para a etapa de revisão e, de bônus, eu viajaria para o
Brasil na semana que vem sem ter medo da loucura que será o mês de março.
Mas... como o mundo não é perfeito – #classemediasofre –, podem vir as borboletas
no estômago. No fim eu sei que tudo dará certo :)
Os meus livros de cabeceira do último um ano e meio
* Na universidade onde estudo, a Nova de Lisboa, os mestrados tem dois anos de duração. No primeiro ano só temos aulas,
que é chamado “componente lectiva”. O segundo ano é dedicado exclusivamente ao
trabalho final, que pode ser feito em três formatos**: dissertação, estágio
acadêmico ou projeto para ingressar num doutorado.
No fim do primeiro ano, recebemos um
certificado de pós-graduação. O aluno que assim o quiser, pode ficar só com
esse diploma e não dar continuidade ao curso. Vale registrar que nesse caso a
pessoa não recebe o grau de mestre. ** No
caso de estudantes brasileiros, a dissertação é o único formato que o MEC
aceita para validar o curso no Brasil.
Manoela estava contando para uma paciente
ao meu lado que, em sua casa, quem cozinha é ela. O filho, com 21 anos, no
máximo frita bifes. Nem ao talho (açougue) ela o deixa ir, porque “comprar
carne é uma coisa muito séria”, enfatizou.
A senhora que recebia massagem e escutava,
no alto dos seus 60 e poucos anos, contestou:
“Tem que deixar o menino aprender, Manoela.
Mesmo que faça errado, tem que deixar ele fazer as coisas sozinho. Sabe Deus
que tipo de mulher ele vai arranjar. Hoje em dia é preciso estar preparado para tudo”.
Hoje, a Jú Mantovani compartilhou esse vídeo
comigo, sobre uma universidade na Índia onde só podem ser professores pessoas
sem formação universitária. É uma faculdade para pessoas pobres, que ensina o
que é importante para o desenvolvimento local, partindo das necessidades da
realidade deles como cenário principal.
Esse vídeo me lembrou uma conversa que ouvi
alguns meses atrás, num restaurante. Estavam quatro senhores numa mesa e um
deles disse:
- Daqui alguns anos, quando precisarmos de um eletricista, não vamos encontrar porque
só vai existir doutores*.
Outro respondeu:
-
Pois! E a culpa é nossa porque fomos nós que obrigamos os nossos filhos e netos
a andarem pela faculdade.
Silenciosamente, eu concordei porque leva
ao tema do vídeo e a um questionamento que eu já tinha levantado aqui antes: formação demais pode ser frustrante.
A definição que a universidade dos pés
descalços dá para profissional é a melhor: “é alguém que tem uma combinação de competências, confiança e crença”
e, para exemplificar, mostra pessoas analfabetas que constroem centrais de
energia solar em aldeias na Índia, África e Oriente Médio. Eles não sabem assinar o próprio nome, mas isso não os impede de transformar a realidade de centenas de famílias.
É ou não é para nos fazer pensar?
* Em Portugal, toda pessoa com formação
superior pode ser tratada como doutor (a).
Eu falei mais de uma vez ao longo de 2011 o
quanto sou grata por tantos acontecimentos felizes que a vida tem me
presenteado. Ao montar a retrospectiva, essa sensação só aumentou. Mesmo os
imprevistos foram encarados como empurrões para passos que, sozinhos, Marido e
eu talvez demorássemos mais tempo para dar.
Gratidão, palavra que resume tudo. Pela
saúde, pela família, pelos amigos, pelo amor, pela cumplicidade, pelo trabalho,
pelas viagens, pelas descobertas e por estar de peito aberto para viver o
momento presente.
Outra definição para 2011? O ano que a
família atravessou o Atlântico para nos visitar. Porque viver na Europa é uma
maravilha, mas poder compartilhar isso com aqueles que amamos é simplesmente
indescritível.
Aprendizado número 1 do ano: nessa vida,
nós não temos controle sobre absolutamente nada. NADA. Tem uma frase que anda
circulando pela internet que diz: “quando eu penso que sei todas as respostas,
Deus muda todas as perguntas”. A gente pode – e deve, claro – planejar o
dia-a-dia, mas ter flexibilidade para lidar com as mudanças no meio do caminho
é questão de sobrevivência.
Aprendizado número 2: cuidado com o que se
pede ao Universo porque ele dá. E geralmente, pelo menos comigo, a ordem de
prioridades Dele é completamente diferente da minha. Portanto, se pedir algo,
esteja preparado para receber, inclusive, muito antes do planejado ou quando achar que ele se esqueceu.
Enquanto eu montava a retrospectiva só
pensava em como cabem coisas boas no espaço de um ano. Ruins também, é claro. Os
maus momentos só não foram fotografados, mas não significa que não foram
vividos. Pelo contrário... por causa deles que aqueles verdadeiramente bons,
por menores que fossem, foram ainda mais valorizados.
Divido com vocês quatro minutos dos meus
bons momentos de 2011.