28 janeiro, 2014

Estudar espanhol em Madri



Como muitos brasileiros, quando cheguei a Madri, jurava que falava espanhol. Eu já tinha viajado à Espanha umas tantas vezes, conheço um montão de gente que fala castelhano e até já tinha lido alguns livros na língua. Mas foram preciso só algumas horas como nova moradora de Madri para me sentir a maior analfabeta do mundo. Ou... como muitos brasileiros, super fluente em portuñol.

[Um parênteses]:

Em 2005, eu morei em Victoria, no Canadá. Dos seis meses que passei lá, frequentei escola de idiomas apenas dois meses e meio (10 semanas). No resto do tempo, praticava inglês trabalhando como babá (au pair), lendo ou conversando com as pessoas. Foi uma experiência muito válida. Voltei pro Brasil falando inglês incomparavelmente melhor, ouvindo bem, ainda era uma tartaruga para ler e escrevia mais ou menos. No geral, eu me virava, mas precisei seguir estudando muito para melhorar minha fluidez.

[Fecha parênteses]

Eu não queria que com o espanhol acontecesse o mesmo. Pelo contrário, queria aprender bem a língua, de modo que pudesse ler, escrever, ouvir e falar fluentemente. Eu não queria apenas me fazer entender no mercado ou na farmácia. Queria dominar tão bem o espanhol que pudesse trabalhar com ele como jornalista.

A solução, então, foi me matricular numa escola de espanhol para estrangeiros.

Japão, Brasil, Turquia, Suíça, EUA e China

[Outro parênteses]:

Aqui na Espanha, além das escolas particulares, existe também a opção de aprender idiomas em escola pública – a Escuela Oficial de Idiomas, que tem várias unidades pelo país. O preço é mais acessível e a carga horária diária é menor, o que permite que o aluno trabalhe e estude. As vagas para o curso de espanhol são muito concorridas e os cursos são quadrimestrais, de setembro a janeiro ou de fevereiro a junho.

Nós nos mudamos para Madri em abril, o que significa que eu só poderia entrar numa Escuela Oficial em setembro.

[Fecha parênteses]

Como eu não queria esperar tanto tempo, fui atrás de uma escola particular. Meu primeiro filtro foi pedir informações apenas às escolas filiadas ao Instituto Cervantes.

Comparei carga horária, o programa que ofereciam, a localização, opções de horário das aulas, as instalações e, claro, o preço. Como o espanhol e o português são muito parecidos, em todos os testes de nível de conhecimento que fiz, eu aprovava nos dois níveis mais básicos (A1 e A2). Mesmo sem nunca ter estudado espanhol na vida. De cara, eu descartei as escolas que sugeriram que eu entrasse no nível B2 (itermediário alto) porque perderia muita coisa de gramática no meio.

Alunos de França, Itália, Brasil, Suíça, Rússia e Taiwan e as profes

No fim, escolhi o curso super intensivo da Enforex, de 30 horas/ aula semanais. Todos os dias, eu tinha quatro horas de aula de gramática e conversação, uma hora de aula de cultura espanhola e uma hora que era o “super intensivo”, na qual a professora trabalhava a cada dia um ponto fraco do aluno. Era praticamente uma aula particular. Para mim, fez toda a diferença.

Em 16 semanas (de maio a setembro de 2012), eu passei pelos níveis B1, B2 e C1 (o nível avançado). Foi um bom investimento, de tempo e dinheiro, que rendeu seus frutos. Aproveitei que estava com tudo fresquinho na cabeça e, em novembro, fiz a prova para o diploma de proficiência do Instituto Cervantes, o DELE. E aprovei :)

Meu último dia de aula, com amigos da Itália, Brasil e Polônia

Um bônus do curso foi ter convivido com pessoas de todo o mundo. Conheci gente incrível nesses quatro meses. E como costumávamos dizer, o melhor da aula acontecia fora da classe. Nos bares, festas, piqueniques, jantares e passeios.

Depois da Enforex, eu fiz dois cursos numa Escuela Oficial. O de espanhol acabou sendo uma revisão do que eu já tinha visto na escola particular. O segundo, de tradução, achei excelente.

Gostei de ter estudado nela para conhecer outro tipo de estudante. Enquanto nas escolas particulares os alunos estão em ritmo de férias e contratam o curso por semanas. Era muito dinâmico: toda segunda-feira havia aluno novo na turma e toda sexta-feira era despedida de alguém.

Já na Escuela Oficial é mais amarrado. O valor pago equivale ao semestre inteiro e os estudantes de espanhol são, na maioria, imigrantes que já vivem aqui há algum tempo.



Hoje eu ainda falo com um super sotaque brasileiro e me enrolo para pronunciar o "eRRRRe" como se deve, mas posso dizer que o objetivo proposto foi atingido. O castelhano para mim soa tão natural quanto o português. 

Um comentário:

Lisi disse...

Que sueño! Me formei em espanhol no Brasil, mas agora 10 anos depois, e nenhuma vivência internacional (1 semana como turista na Argentina nao conta), sei que casi no hablo nada. Ainda sonho em fazer um curso assim, porque mataria 2 coelhos em termos de sonhos meus, fluência e intercâmbio. Adoro ouvir essas experiências positivas.