16 dezembro, 2011

Pronomes de tratamento

No primeiro dia de fisioterapia, eu estava na sala de espera quando a Manoela chamou: “Dona Kelli”. Ao me ver, imediatamente corrigiu: “Ah! É Menina Kelli”.

Pois é! Em Portugal há esse modo peculiar de chamar às mulheres mais novas. O normal, segundo uma amiga explicou, é usá-lo para “raparigas solteiras”. No meu caso, uma senhora casada, já não era para ser tratada por Menina, mas acontece sempre. É isso que dá ter um ar jovial :)

É sério. Eu já tinha sido tratada por Menina em cafés, restaurantes, lojas e na faculdade. Até aí, para mim, isso era um hábito do cotidiano falado. Eis que um dia eu estava reservando uma viagem e no site da companhia aérea tinha as opções: Sr., Sra. e Menina. MENINA, gente. Imaginem a pessoa na fila do check in, com mais de 30 anos nas costas e uma passagem emitida para “Menina”? Hilário.

O interessante é que o inverso não acontece. Os rapazes solteiros nunca são tratados por “Menino”. Informalmente são gajos, assim como as mulheres são raparigas. Gaja não existe. Quer dizer... existir, existe, mas é preciso muuuuuuita intimidade pra tratar uma mulher assim, porque equivale à mulher de quinta categoria.

Aliás, uma informação importante para os brazucas: tratar as pessoas por “moço” ou “moça” é super pejorativo. O garçom pode ter 17 anos, o modo correto de tratá-lo é por senhor.  

Houve uma vez que eu gerei a maior polêmica com os meus colegas do mestrado ao perguntar se havia algum problema em tratar o meu orientador por você. Teve os que levantaram a bandeira da informalidade, mas outros – a maioria, diga-se – defenderam o respeito à hierarquia e tratam os seus orientadores por Sr. Prof. Doutor.

Eu tenho todo respeito pelo meu orientador e pelos demais professores do meu mestrado, mas Senhor-Professor-Doutor é um bocadinho formal demais. Depois dessa discussão eu adotei outra forma de tratar as pessoas muito comum em Portugal: usando a terceira pessoa do verbo. Tipo: “o que o professor acha?” ou “o professor disse...” com ele sentado bem na minha frente. Agora já sai naturalmente, mas no início...

Para terminar esse post gi-gan-te, o modo de se referir às crianças, o mais fofo de todos: putos e miúdas.

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