17 março, 2009

O pintor

Durante o inverno, uma colmeia de fungos tomou conta do nosso apartamento. Começou pelo nosso quarto com um pontinho preto de nada no canto do teto. Quando nos demos conta, a mancha tinha se alastrato por todo o teto e em três das quatro paredes. E andou para o banheiro e para a uma parte da sala também.

Num belo domingo acordei sem paciência de esperar até o verão, para a umidade não voltar a agir. Enchi um balde com água e cândida e mãos à obra. Marido e eu limpamos o quarto inteiro. Não sobrou um mofo sequer para contar história, parecia até que tínhamos pintado, de tão branquinho que ficou.

Claro que tivemos que dormir na sala naquele dia, pois o cheiro de cloro estava fortíssimo e, para que dissipasse mais rápido, deixamos as janelas abertas. Pronto. O prédio inteiro, incluindo o nosso senhorio (é como são chamados os proprietários aqui), ficou sabendo que o apartamento estava com umidade. Foi assunto da reunião de condomínio e tudo.

Não passou uma semana e o senhorio apareceu aqui com um pintor, para ver a sala e o banheiro (que deixamos para limpar outro dia). Ele deu o orçamento, mas avisou que para resolver mesmo o problema, só consertando o telhado. Daí o senhorio respondeu que isso os proprietários dos demais apartamentos não querem, já que só o dele está com esse problema.

Então o pintor dispara: “Quem quer morar no último andar? Ninguém! É o que fica mais quente no verão e mais frio no inverno e é o único que fica com umidade, porque até esse problema incomodar quem está lá embaixo, esse teto aqui já caiu”.

O senhorio ficou sem palavras e eu me segurei para não rir.

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