15 julho, 2011

Prazeres e desprazeres de ser imigrante

2011 é ano de renovar o visto para continuar vivendo legalmente em Portugal. E se tem uma coisa chata de se viver fora do Brasil é lidar com toda a burocracia que isso envolve. Papéis e mais papéis para provar que você é uma pessoa do bem, paga suas contas em dia, não está aqui para matar ninguém e, o que algumas pessoas simplesmente não entendem: está fora do seu país por ESCOLHA, não vive de favor em outro país, pelo contrário, é o seu trabalho – e os impostos que você paga – que contribui para a economia dele continuar girando.

Ser imigrante é uma chatice nessa hora. Porque os imigrantes são colocados todos no mesmo saco, não importa o passado, a formação, a índole, nada. Você é imigrante? Então siga para aquele balcão. Ponto.

Mas daí que ser imigrante nos faz lidar com situações impensadas que chegam a ser engraçadas, de tão fora do nosso senso-comum. Por exemplo: no início do ano, Marido e eu mudamos de apartamento. E um dos papéis que precisamos levar ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (aka imigração) é um “atestado de morada” fornecido pela Junta de Freguesia, que é uma espécie de mini prefeitura do meu bairro, com presidente eleito pelos moradores e tudo.

As duas casas – antiga e atual – ficam a apenas dois quilômetros de distância, mas em Juntas de Freguesia diferentes. Detalhe: as Juntas são entidades autônomas, ou seja, cada uma tem o seu próprio procedimento para fornecer os mesmos documentos. Contextualização feita, continuemos.

Há dois anos atrás, eu solicitei o tal atestado na Junta antiga. Levei uma conta de luz e pronto. Dois dias depois o atestado estava pronto. Fui à Freguesia nova com meus  documentos e a conta de luz mais recente e a senhora disse que ali o procedimento era outro.

Para provar que eu vivo onde eu vivo, não adiantava nem a conta do banco, eu tinha que levar para ela uma folha assinada por dois comerciantes do meu bairro dizendo “Sim. Sim. A menina Kelli e o Sr. Engenheiro Luis vivem cá. Eu os vejo todos os dias”.

É por essa e por outras que viver fora é uma experiência que vale muito à pena. Em pleno ano de 2011, século XXI, a gente ainda encontra lugares onde a palavra do jornaleiro e do dono do café da esquina vale mais que a conta de luz paga em dia.

E o que importa: visto renovado nas mãos para mais dois anos de Europa :)

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