03 maio, 2013

5 anos na Europa

Pedacinhos do mundo

Hoje completa 5 anos que Marido e eu viemos viver na Europa. Eu lembro perfeitamente daquele sábado, dia 3 de maio de 2008, quando chegamos a Lisboa e a cidade estava deserta por causa do feriado prolongado.

Lembro de cada detalhe do quarto do hotel, do nosso primeiro jantar – bacalhau, claro! –, do friozinho primaveril, o vento com sol à beira do Tejo, do cansaço pela viagem e pelo fuso, mas a curiosidade falando muito mais alto e nos mandando explorar aquelas ruas que, hoje, nos são tão familiares.

Cinco anos se passaram e eu sempre me impressiono com o quanto a vida muda num espaço tão curto. Se há 6 anos alguém me dissesse que nos próximos anos eu iria casar, mudar para Portugal e depois Espanha, viajaria por mais de 15 países, conheceria pessoas de todos os continentes, faria um mestrado que me enveredaria pelos caminhos do turismo e da sustentabilidade e expandiria meus horizontes de uma maneira tão visceral que simplesmente ficaria impossível voltar a ser aquela Kelli de 2007, eu riria e pensaria: “ela só acertou a parte do casamento...”.

Não tem como falar nos últimos anos sem que o peito fique cheio de gratidão por todas as experiências incríveis que temos tido o privilégio de viver. Privilégio daqueles bem grandes. Confesso que por muitas vezes questionei se merecia viver tudo isso. Até que duas pessoas que respeito muito, em momentos distintos, me disseram mais ou menos a mesma coisa: “Se a vida está te dando uma oportunidade, seja ela qual  for, aceite, agradeça e retribua”.
 
Lisboa querida
A partir daí, tudo ficou mais leve porque nós sabemos que estamos em Madri hoje. O amanhã é uma grande incógnita que pode reservar a nossa volta para o Brasil ou a ida para qualquer outro lugar no planeta. É por isso que aproveitamos o que a Europa nos oferece como se não houvesse amanhã. Suas estruturas, acessibilidade, o constante conviver com o diferente. E é por isso que a cada oportunidade de conhecer um lugar novo, as malas já estão prontas. Chega a ser engraçado, pois quando uma pessoa nos convida para visitar a sua casa, eu invarialmente pergunto se ela está certa daquilo, porque nós vamos. De verdade.

Volte e meia Marido e eu ouvimos que temos sorte. Dizem por aí que sorte é quando o preparo encontra a oportunidade. Pensando assim, nós realmente temos muita sorte. A sorte de amar,  tolerar e respeitar um ao outro; a sorte de ter uma família que entende que temos rodinhas nos pés e apoia as nossas escolhas; a sorte de ter amigos incríveis; a sorte de estarmos abertos para o que quer que seja. Sabem... eu acredito demais na “lei” que diz que quando a intenção é verdadeira, o universo conspira para que as coisas fluam. Funciona. Juro.

É claro que nem tudo são flores. Viver na Europa não se resume às fotos que publicamos no facebook ou instagram. Antes fosse :) Lidamos constantemente com a frustração de estar longe em todas as datas especiais, acompanhamos o crescimento do nosso afilhado e sobrinhos à distância, cogitamos voltar para o Brasil mês sim, mês não por causa da saudade da família e dos amigos.

Não importa quantos imigrantes existam no país, aqui somos sempre estrangeiros, leva tempo até ganhar a confiança dos locais (mas uma vez conquistada, temos amigos para a vida), temos que aprender como a cidade funciona do zero e sem a referências dos nossos pais, que não estão aqui para nos dizer onde se faz o documento de identidade, onde fica o posto de saúde, como se faz para abrir uma conta no banco, ou ter uma linha de celular, que nas farmácias não vendem absorvente higiênico, que o bilhete de ônibus se compra na tabacaria, que na padaria só se vende pão e que para tomar café tem que ir ao bar/cafeteria ao lado.  
Madri encantadora

Todas aquelas referências de infância e adolescência, esquece. Não entendemos as piadas, não temos embasamento para discutir a política, não reconhecemos os famosos, nem sequer conhecemos a programação da tevê ou sabemos quais são os programas que todo-mundo-vê tipo a novela das oito. É preciso paciência para lidar com o preconceito, com a saudade que bate do nada, ou com o inverno bem mais rigoroso que o brasileiro.

Mesmo assim, a contrapartida de viver fora do Brasil esses 5 anos tem valido muito à pena. Para onde quer que os ventos nos leve nos próximos anos, essa bagagem que estamos adquirindo vai nos acompanhar em todos os campos: pessoal, profissional, intelectual, cultural, emocional. Hoje somos mais flexíveis, super cúmplices e parceiros, revimos um montão de valores e conceitos, aprendemos que precisamos de pouco para viver bem e sermos felizes e que uma vez picados pelo bichinho viajadeiro, não tem mais volta: malas, tickets, avião, trem e caminhadas em busca de coisas novas sempre farão parte da nossa rotina.

3 comentários:

Anônimo disse...

Que delícia de post!

Parabéns e que venham muitos anos assim felizes! :)

Luli Trouche disse...

Kelly querida... que essa vida linda continue te trazendo cada vez mais alegrias! :)
Bom demais te ver tão feliz assim, xuxu!
Aproveite mesmo cada segundinho!
Beijoca e saudades sempre!
Luli

Sandra B. disse...

Kelli,

"Hoje somos mais flexíveis, super cúmplices e parceiros ...": que lindo!!

sinto o mesmo.
bjo
Sandra