- Casamento
Nunca agradecerei a Houda o
suficiente por ter incluído Marido e eu na sua lista de convidados. Sem sombra
de dúvida foi o ponto mais alto de toda a viagem. Imaginem: participar da festa
desde o comecinho e ficar até o final (mais de 10 horas de festa!), conviver
com TODA a família dos noivos, nos comunicarmos sem falarmos nada de árabe e
muito pouco de francês, ter as mãos
pintadas de hena, entre tantos outros detalhes. Foi uma festa linda, cheia de
rituais, muito alegre, sem uma gota de álcool e com fartura de deliciosa comida.
- O Deserto
Imaginem a cena: você, uma
vastidão de areia cor-de-laranja do Deserto do Saara, camelos, a lua cheia de
um lado, uma grande duna e o pôr-do-sol do outro. É daqueles momentos que a
gente senta, admira, solta um suspiro e agradece.
Eu me sentia num cenário de
contos de fadas e pensava constantemente: “é igualzinho nos filmes!!!!”. Ao
mesmo tempo, me entristeceu muito ver o quanto a região está sendo
turisticamente explorada de um modo tão irresponsável. Escreverei um post só
sobre a experiência no deserto e me aprofundarei mais nesse ponto.
- Kasbahs no meio do Atlas
No caminho para o deserto havia
uma pedra tem uma cadeia de montanhas que forma o Alto Atlas. Foram 12 horas para percorrer 600 km de vai-e-vem e sobe-e-desce numa paisagem desértica, laranja-cor-de-tijolo, com cidadezinhas e kasbahs (antigas fortalezas) que se misturam com a cor da montanha, quase como camaleões.
É algo que realmente impressiona. O caminho inteiro é inóspito, vê-se claramente o contorno que a estrada e as montanhas fazem pelo leito do rio. Que por sua vez estava completamente seco. Vale dizer que fizemos essa viagem no primeiro dia de verão (22 de junho), com um céu azul maravilhoso, 38 graus na cabeça e nenhuma nuvem. Nos disseram que no inverno as chuvas mudam completamente a paisagem.
Ao longo do caminho, ao mínimo sinal de água, palmeiras de tâmaras surgiam, como pequenos oásis. Quando eu falo que parece cenário de filme... I mean it! Inclusive essa região é realmente explorada cinematograficamente por diferentes estúdios, sobretudo próximo à cidade de Ouarzazate.
O Kasbah Aih Benhaddou foi set de gravação de filmes como Gladiador, Indiana Jones, Jesus de Nazaré, Jóia do Nilo, A Múmia, entre muitos outros. As últimas filmagens foram da série Game of Thrones. É o grande orgulho dos moradores. Ao mesmo tempo não deixa de ser triste, se pensarmos que o que leva esses estúdios para ali são os baixos custos e não necessariamente contribuir para a melhoria dessas pequenas cidades.
- A comida
Foram 12 dias a base de tajines,
couscous, saladinhas, frutas, chá e muito suco de laranja. Até trouxemos temperos de
lá como souvenir :)
Vale dizer que o Marrocos é um país
muçulmano onde, em teoria, não se consome álcool. Mas... como cada vez eles
estão mais abertos e flexíveis com o turismo, acaba sendo fácil encontrar vinho,
cerveja e afins, sobretudo fora da Medina (parte mais antiga da cidade), na chamada Cidade Nova, Bairro Novo ou qualquer outra
referência à parte da cidade mais ocidentalizada.
Marido e eu resolvemos seguir
a máxima “no Marrocos faça como os marroquinos” e tomamos cerveja apenas um vez
em toda a viagem.
- A loucura de Marrakech
História, caos, cores, cheiros,
trânsito, sujeira. Marrakech é um choque. É uma loucura. Chega a ser insana.
Carros, carroças, pedestres, motos, bicicletas, burros, cavalos e vendedores
disputam o mesmo espaço nas vielas minúsculas dos Bazares e Souks. Como bem
disse Marido, ali, a lei que predomina é a do “buzina e empurra”. Vendedores
vorazes. Assédio. Se olhar para algo, pronto, vão querer vender. Se tocar,
então, esquece. Vai ter que comprar. A cidade em um verbo: barganhar. O ocre é
a cor dominante e a poeira vinda no deserto paira sobre a cidade como se fosse
neblina.
- A beleza de Fes
Foram necessários poucos minutos
em Fes (ou Fez) para eu comentar que, se soubesse antes, teria começado a
viagem por ali. Passou. Outro pensamento me ocorreu na sequência: talvez tenha
sido justamente toda a voracidade e o caos de Marrakech, toda aquela ansiedade
de querer explorar tudo, de tentar absorver séculos de história em poucos dias,
que permitiu que o ritmo em Fes fosse de calma e contemplação. A cidade é
encantadora, a que achamos mais bonita, bem preservada e para que conste: os
vendedores são muito mais tranquilos.
Hortelã para suportar o cheio de carniça dos tanques de tingir couro, em Fes |
Detalhe: duas amigas me lembraram
que a cidade foi cenário da novela O Clone.
- Hospedagem em riads
Riad Dar Jameel, em Tanger |
Riad é como se chama o estilo de
construção árabe, com um pátio central no prédio e os quartos distribuídos ao
redor, em forma de balcão. Os riads costumam ter um caráter bem acolhedor e
geralmente são pequenos, com no máximo seis quartos. Seriam o equivalente no
Brasil àquelas pousadas que nos fazem sentir em casa, sabem?
Recepção do Riad Adarissa, em Fes |
Pátio do Riad l'Oiseau du Paradis, em Marrakech |
Com exceção de Meknes, que nos
hospedamos no Ibis, em todas as demais cidades que passamos nos hospedamos em
riads dentro da Medina, a parte mais antiga, mais tradicional e geralmente
ainda murada das cidades. Foi um dos pontos altos da viagem porque nos garantiu
um tratamento mais pessoal por parte dos funcionários, quartos com decoração
estilo Aladdin e café da manhã sempre com tudo super fresquinho e
caseiro.
Riad Dar Yanis, em Rabat |
- Hammam
Hammam é um banho turco, com uma
mega esfoliação, seguido de massagem. Nós já tínhamos experimentado quando fomos
ao Uzbequistão. Apesar de parecer que a moça vai arrancar a nossa pele com a
bucha, é uma experiência tão relaxante que quis provar outra vez.
Tivemos a sorte de no riad que nos
hospedamos em Marrakech ter esse serviço, então foi duplamente providencial. Primeiro
porque foi praticamente uma sessão particular e, segundo porque deixamos
agendado para assim que voltássemos da excursão ao deserto. Pensem no mimo
certo, no momento certo da viagem? Foi esse! Tiramos todo o encardido de poeira
e ficamos revigorados para o resto da trip.
- Artesanato
Infelizmente, produtos “made in
China” se já não são a maioria nos mercados marroquinos – os souks – estão prestes
a se tornar. Mas com paciência para ignorar a insistência dos vendedores e
disposição para caminhar, é possível encontrar ruazinhas só com coisas
genuinamente marroquinas e o mais bonito: artesãos fazendo suas artes, sejam
elas luminárias, bules, sapatos, bolsas, pinturas ou bordados.
Em algum lugar no meio dos Atlas, tapetes feitos a mão, com materiais naturais |
Lá uma compra funciona assim: viu
algo, gostou, agora negocie. Isso vale para absolutamente tudo, inclusive para
comida ou táxi. Ainda que pareça barato para você, tenha a certeza: o primeiro
preço que eles pedem é sempre superfaturado. Pode pedir desconto ou fazer uma
contra-proposta sem medo.
Cooperativa feminina que produz óleo de argan. Moroccanoil in natura |
Pretendo abordar o tema de compras e pechinchas mais
pra frente. Por hora, a única dica que eu dou é: se você não tem certeza se
realmente quer tal objeto, não negocie. Vai ser desgastante para os dois lados.
E a vontade de trazer todas as cerâmicas? |
- Andar de trem
Estação de Fes |
Para fechar o Top 10 a nossa
maior surpresa nessa viagem: o transporte ferroviário. Todos os amigos que
conhecemos que fizeram uma viagem mais ou menos parecida com a nossa optaram
por fazê-la de carro. Marido não estava muito confortável com a ideia por vários
fatores: 1. o cansaço que provocaria, 2. a sinalização das rodovias em árabe e
francês e 3. a qualidade das estradas, que desconhecíamos.
Estação de Marrakech |
Optamos por fazer todos os
percursos de trem e realmente nos surpreendeu. Serviço pontual, vagões confortáveis,
conecta todas as principais cidades com uma boa frequência e oferece um preço
bem acessível, pagamos em média entre 8 e 12 euros por uma passagem na primeira
classe. E de quebra, as estações de trem são uma mais linda que a outra.
Estação de Tanger |
4 comentários:
Kelli, a tua viagem parece uma replica da nossa. Por alguma razao, revendo as tuas fotos alguns aspectos da nossa viagem se tornaram mais significativos como lembrancas!
Sem duvida voces sao melhores fotografos do que somos. Minhas fotos, na maioria, foram da arquitetura que pretendo transformar um dia em watercolours.
Beijos...
Thank you Kelli and Luis for taking time to come to my wedding. It was really appreciated and wish to see you soon :)
Que espantoooooooo!!!!!!!!!!!! Que viagem maravilhosa, parabéns!
:)
Olá Kelli,
Eu não tinha lido esse post! Não achei nenhum pouco longo sem post. Acho que não dá para falar do lugar e das sensações que o lugar passa sem nos prolongarmos.
Você conseguiu me fazer viajar junto com você e inclusive, descobri muitos aspectos parecidos com o Egito. Provavelmente por serem arabes existe muita coisa em comum, como a pechincha, o fato de você não identificar se é gentileza ou "armadilha".
Concordo com você, mesmo para um brasileiro não é fácil interpretar a cultura deles.
Sobre os preços, quando fomos para o Egito, um casal de italianos que tinha ido para lá 5 vezes nos falou sobre o super faturamento de tudo, inclusive de táxis. O primeiro táxi que paramos nos pediu € 50,00 para andar 30 km. Daí dissemos que não, que tínhamos um amigo que nos levaria e ele fez por € 2,00 (dois euros). Fala sério! Assim foi com tudo.
Valeu pelo post!
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