Pedacinhos do mundo |
Hoje completa 5 anos que Marido e eu viemos viver na Europa.
Eu lembro perfeitamente daquele sábado, dia 3 de maio de 2008, quando chegamos a
Lisboa e a cidade estava deserta por causa do feriado prolongado.
Lembro de cada detalhe do quarto do hotel, do nosso primeiro
jantar – bacalhau, claro! –, do friozinho primaveril, o vento com sol à beira
do Tejo, do cansaço pela viagem e pelo fuso, mas a curiosidade falando muito
mais alto e nos mandando explorar aquelas ruas que, hoje, nos são tão
familiares.
Cinco anos se passaram e eu sempre me impressiono com o quanto
a vida muda num espaço tão curto. Se há 6 anos alguém me dissesse que nos próximos
anos eu iria casar, mudar para Portugal e depois Espanha, viajaria por mais de
15 países, conheceria pessoas de todos os continentes, faria um mestrado que me enveredaria pelos caminhos do turismo e da sustentabilidade e expandiria meus
horizontes de uma maneira tão visceral que simplesmente ficaria impossível voltar
a ser aquela Kelli de 2007, eu riria e pensaria: “ela só acertou a parte do
casamento...”.
Não tem como falar nos últimos anos sem que o peito fique
cheio de gratidão por todas as experiências incríveis que temos tido o privilégio
de viver. Privilégio daqueles bem grandes. Confesso que por muitas vezes questionei
se merecia viver tudo isso. Até que duas pessoas que respeito muito, em
momentos distintos, me disseram mais ou menos a mesma coisa: “Se a vida está te
dando uma oportunidade, seja ela qual for, aceite, agradeça e retribua”.
A partir daí, tudo ficou mais leve porque nós sabemos que
estamos em Madri hoje. O amanhã é uma grande incógnita que pode reservar a
nossa volta para o Brasil ou a ida para qualquer outro lugar no planeta. É por
isso que aproveitamos o que a Europa nos oferece como se não houvesse amanhã. Suas estruturas, acessibilidade, o constante conviver com o diferente. E é por isso que a cada oportunidade de conhecer um lugar novo, as malas já estão prontas. Chega a
ser engraçado, pois quando uma pessoa nos convida para visitar
a sua casa, eu invarialmente pergunto se ela está certa daquilo, porque nós vamos.
De verdade.
Volte e meia Marido e eu ouvimos que temos sorte. Dizem por
aí que sorte é quando o preparo encontra a oportunidade. Pensando assim, nós
realmente temos muita sorte. A sorte de amar, tolerar e respeitar um ao outro; a sorte de
ter uma família que entende que temos rodinhas nos pés e apoia as nossas
escolhas; a sorte de ter amigos incríveis; a sorte de estarmos abertos para o
que quer que seja. Sabem... eu acredito demais na “lei” que diz que quando a
intenção é verdadeira, o universo conspira para que as coisas fluam. Funciona. Juro.
É claro que nem tudo são flores. Viver na Europa não se
resume às fotos que publicamos no facebook ou instagram. Antes fosse :) Lidamos
constantemente com a frustração de estar longe em todas as datas especiais, acompanhamos
o crescimento do nosso afilhado e sobrinhos à distância, cogitamos voltar para
o Brasil mês sim, mês não por causa da saudade da família e dos amigos.
Não importa quantos imigrantes existam no país, aqui somos
sempre estrangeiros, leva tempo até ganhar a confiança dos locais (mas uma vez
conquistada, temos amigos para a vida), temos que aprender como a cidade
funciona do zero e sem a referências dos nossos pais, que não estão aqui para
nos dizer onde se faz o documento de identidade, onde fica o posto de saúde, como
se faz para abrir uma conta no banco, ou ter uma linha de celular, que nas farmácias
não vendem absorvente higiênico, que o bilhete de ônibus se compra na
tabacaria, que na padaria só se vende pão e que para tomar café tem que ir ao
bar/cafeteria ao lado.
Madri encantadora |
Todas aquelas referências de infância e adolescência,
esquece. Não entendemos as piadas, não temos embasamento para discutir a política,
não reconhecemos os famosos, nem sequer conhecemos a programação da tevê ou
sabemos quais são os programas que todo-mundo-vê tipo a novela das oito.
É preciso paciência para lidar com o preconceito, com a saudade que bate do
nada, ou com o inverno bem mais rigoroso que o brasileiro.
Mesmo assim, a contrapartida de viver fora do Brasil esses 5
anos tem valido muito à pena. Para onde quer que os ventos nos leve nos próximos
anos, essa bagagem que estamos adquirindo vai nos acompanhar em todos os
campos: pessoal, profissional, intelectual, cultural, emocional. Hoje somos mais flexíveis,
super cúmplices e parceiros, revimos um montão de valores e conceitos, aprendemos
que precisamos de pouco para viver bem e sermos felizes e que uma vez picados pelo bichinho viajadeiro, não tem mais volta: malas, tickets, avião, trem e caminhadas em busca de coisas novas sempre farão parte da nossa rotina.
3 comentários:
Que delícia de post!
Parabéns e que venham muitos anos assim felizes! :)
Kelly querida... que essa vida linda continue te trazendo cada vez mais alegrias! :)
Bom demais te ver tão feliz assim, xuxu!
Aproveite mesmo cada segundinho!
Beijoca e saudades sempre!
Luli
Kelli,
"Hoje somos mais flexíveis, super cúmplices e parceiros ...": que lindo!!
sinto o mesmo.
bjo
Sandra
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