O Papa está em São Paulo e, claro, tudo parou. Não sei porque insistem em trazer eventos desse porte para cá. A cidade já está cheia demais, não agüenta esse tipo de coisa. Por menor que seja o acontecimento, tudo pára. Pode ser chuva, jogo de futebol, show, não importa. Pára. E pára mesmo. Dessa vez até o metrô, que sempre foi uma das saídas mais eficazes para fugir das ruas interditadas, está funcionando naquelas, devagar, quase parando.
Hoje, pela manhã, recebi essa mensagem de uma amiga que trabalha no centro de São Paulo, bem pertinho de todo o furdunço:
É o fim do mundo, tenham certeza!
O povo está gritando: "Papa! Cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!!"
É mesmo o país do carnaval...
Sem comentários...
E o mais intrigante é que tanta espera, tanta mobilização, mas ontem, na madrugada, ninguém quis ficar no frio e no sereno fazendo uma vigília... Orando... Sei lá.
O Papa falava: "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo " e o povo gritava: "eeeeeeeeeeeeeeeeee". Ué?? Antigamente não se dizia Amém?
Essa é a nossa igreja. Esse é o nosso povo. Não importa rezar pela paz, pelo fim das injustiças, por mais compaixão, por respeito ao próximo, nada disso. O que interessa é fazer barulho pra aparecer na “Grobo”.
Quando era adolescente, freqüentei a igreja por alguns anos. Era católica, apostólica, romana e praticante. Ia à missa, comungava, participava de grupos de jovens, ouvia Padre Marcelo, fazia novenas, campanhas da fraternidade, o padre era até meu amigo, vejam vocês. Daí aconteceu que teoria e prática ficaram mais e mais distantes, foi quando decidi que não dava mais, era tudo muito contraditório para eu tentar entender.
Um pouco depois, o padre amigo foi substituído por um festeiro, que eu prefiro chamar de capitalista. O salão de festas paroquial foi transformado em restaurante; a fachada ganhou azulejos; a escada, corrimão; o santo da cúpula foi pitado. O interior da igreja também deve ter mudado, mas confesso que em todos esses anos, ainda não me senti atraída para conferir.
Eu até tentei procurar por esse padre uma vez, nem lembro qual era motivo. Sei que perguntei por ele e o secretário informou que era seu dia de folga. “Puxa, com o padre amigo isso nunca acontecia”, comentei, no que recebi uma resposta ríspida do tipo “já faz muito tempo que o padre amigo não é mais o pároco aqui”. Fui embora e não voltei mais.
Esta semana montaram a estrutura das barracas para a quermesse. No alto da igreja, quase cobrindo o santo pintado, uma placa diz que a “Grande Quermesse de Rudge Ramos” será de 18 de maio a 15 de julho. Entenderam o porque do capitalista, ne? Enfim... Hoje em dia, só vou à igreja por motivos de força maior: casamentos, batismos ou missas especiais. No mais, a minha evolução espiritual busco em outras fontes.
Eu respeito muito os católicos de verdade, que se submeteram a todo empurra-empurra de ontem para receber a benção papal, no meio de tanta gente que sequer sabe o nome do Papa, muito menos o que ele veio fazer por aqui. É preciso acreditar muito, para tamanho sacrifício.
Um comentário:
Acho q vc disse tudo: infelizmente, não é nesse tipo de movimento (para não dizer outra coisa) q as pessoas vão encontrar sua evolução espiritual. Certamente, ela está noutras praças.
O mais importante é buscar esse caminho. Com Fé. Qq q seja ela.
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